#11 Gestão de produtos e as tradições de fim de ano
O que você continua fazendo por tradição e que talvez não faça sentido continuar?
Esse Natal, minha família não fez a tradicional ceia do dia 24. Estávamos em um aniversário no dia 23 quando fiquei sabendo que teríamos um almoço no dia 25.
Nós somos em três irmãs, e é normal irmos para a casa dos meus pais na noite do dia 24. Sempre foi assim. Minha mãe sempre faz seu frango desossado e recheado - que na verdade é chester e são dois - com farofa, tanto na versão sem passas (para as pessoas normais) quanto na versão com passas (para quem gosta de deturpar a deliciosa criação divina que é uma fruta fresca).
Alguém encomenda a sobremesa, ou duas, eu faço o pix e, às vezes, levo o panetone que ganhei da empresa (já que a fruta cristalizada é outra deturpação da natureza).
Chegamos por volta das 19h, tentamos esperar dar meia-noite, reclamamos até que alguém resolve comer antes. Por fim, eu, que moro mais longe e não tenho carro, luto pra conseguir um Uber e poder dormir na minha casa. Se tudo der certo, levo meu “tapué” de comida pro resto da semana.
Em 2023, foi diferente. Passei o dia 24 confortável na minha casa, vendo filmes de Natal. Comecei relembrando a infância com Esqueceram de Mim 1 e 2, passei para a melhor comédia romântica natalina, O amor não tira férias, e terminei no filme de Natal favorito de todos os personagens masculinos das sitcoms que eu não me canso de rever, Duro de Matar.
Dormi em um horário razoável e me levantei tranquila no dia seguinte, com tempo pra tomar um banho, lavar o cabelo e chegar para o almoço no horário. O mesmo cardápio, as mesmas pessoas, com a diferença que este ano foi a estreia da minha sobrinha nos natais da família, já que em 2022 ela estava com Covid e não pôde participar. Se fosse à noite, ela provavelmente estaria dormindo, e não andando de patinete pela varanda como se fosse trainee em alguma fintech na Faria Lima.
Encontrei Uber sem dificuldades, voltei pra casa com a minha “tapué” de comida para o resto da semana e deu tudo certo.
Talvez você esteja se perguntando porque eu gastei 2000 caracteres de uma newsletter sobre produto pra contar com tantos detalhes como foi o meu Natal, não é mesmo? Ou talvez não. Talvez você já me conheça e saiba que é assim que meu raciocínio funciona. Em todos os casos, por favor, não me abandone ainda, há um motivo.
Essa história foi só pra mostrar pra vocês que ter o almoço no dia 25 foi melhor pra mim do que ter a ceia no dia 24. Tive três benefícios muito claros: Comer em um horário normal (e não tarde da noite), ter a minha sobrinha acordada e encontrar Uber com facilidade. Mesmo assim, eu não queria a mudança, e meu único motivo para não querer era o fato de ser uma mudança.
Tradições no produto
Isso me lembrou que, assim como no meu Natal, em minha viTodo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele.da profissional, eu também tenho dois lados competindo pelas minhas decisões: Um lado é racional e objetivo, orientado a dados; o outro, é humano e se apega aos sentimentos.
Isso é normal, você também tem esses dois lados e vamos continuar tendo. O que não é saudável é nos apegarmos a costumes e tradições, continuar fazendo só porque “sempre foi assim”.
Pode parecer estranho ler isso, pois trabalhamos em uma profissão digital, nós inovamos e abraçamos as mudanças. Mas só isso não nos torna imunes a essas características que são intrinsecamente humanas. A mudança exige esforço.
Sempre gostei de Física e, na minha visão, nada explica melhor esse esforço do que a Primeira Lei de Newton.
Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele.
Começar um movimento, parar um movimento ou mudar de rota exige esforço. E, sinceramente, nós já temos tanta coisa pra fazer, não é mesmo? Quem tem tempo pra pensar nisso?
Tanto em meu trabalho em que lidero pessoas de produto quanto em minha participação nas comunidades, percebo que as tradições estão, sim, muito presentes. A diferença para a ceia de Natal é que elas se apresentam de forma diferente.
São tradições mais jovens, muitas vezes herdadas de fora. Já parou pra pensar que não faz o menor sentido uma decoração com pinheiro, neve e renas em pleno verão tropical? Pois é, também não faz sentido todas as empresas adotarem o modelo Spotify, abolirem apresentações como a Amazon ou demitirem os PMs porque “alguém me disse que o AirBnb fez isso”.
Contexto é a palavra mais importante em toda decisão.
Aproveite o início do ano, esse momento em que pensamos em mudanças e revise aquilo que você faz todos os dias, todas as semanas, todos os meses.
Ainda faz sentido para o seu time ter reuniões diárias ou vocês continuam fazendo porque os frameworks de agilidade há mais de dez anos disseram que é necessário?
Esse relatório de tarefas concluídas que você faz toda semana, alguém olha? O que fazem com ele?
Sua retrospectiva leva a ações concretas ou é apenas mais um ritual em que as pessoas desenvolvedoras entram com a câmera fechada e fingem que estão participando porque odeiam reuniões?
Qualquer que seja a sua tradição, ela está aí porque ela te traz bons resultados ou porque você nem percebe mais a presença dela a ponto de questionar?
Asteriscos
Feliz 2024 a todas as pessoas que me acompanham por aqui! Fico muito feliz cada vez que vejo uma pessoa nova ou quando vocês interagem. Caso você ainda não me siga no Instagram, comecei o ano lá com uma nova identidade visual, mais moderna e prática, que deve facilitar muito a criação dos posts. Vem conhecer!